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Dois sucos e a conta com Rodrigo Freire

correntepelobemsit

Atualizado: 16 de out. de 2023

Advogado que criou a Corrente pelo Bem diz por que troca sábados de praia por idas ao antigo lixão de Jardim Gramacho.


Há quatro anos, o advogado carioca Rodrigo Freire troca um sábado de praia por mês por uma ida ao lixão de Jardim Gramacho. Fora as visitas a asilos, orfanatos, creches e favelas. Sem contar os bazares que organiza toda quarta no bar Villa Ipanema para arrecadar fundos, e os muitos quilômetros que percorre recolhendo brinquedos, alimentos e roupas. No dia da entrevista, ele ainda ia buscar uma árvore de Natal doada por uma moça, pegar 40 sapatos dados por uma loja de calçados infantis e registrar a filha recém-nascida. “Maria é a nova geração da Corrente pelo Bem”, diz ele, referindo-se à menina e à instituição criada na véspera do Natal de 2010. Ontem estava prevista a festa de Natal, com distribuição de 600 brinquedos e 300 cestas básicas no antigo lixão. “Também levo amigos lá para dar palestras de capacitação. A desativação do lixão, em 2012, deixou muitos catadores ociosos, vagando como zumbis. Nosso objetivo é ajudar todo mundo que precisa”, diz Rodrigo, de 37 anos. Especializado em direito do consumidor, ainda atua de graça para pessoas de baixa renda. E seu escritório — é sócio de Jorge Saboya — doa 10% dos lucros mensais para a Corrente pelo Bem .


REVISTA O GLOBO: Como você foi parar no lixão?

RODRIGO FREIRE: Sempre gostei de trabalho voluntário, e um amigo me falou do lixão: “É outra realidade, diferente de tudo que você já viu.” Na primeira vez, há quatro anos, eu e dois amigos fomos com o carro lotado de brinquedos. Achei que era muito. A professora de uma escola local, que tem entre os alunos filhos de catadores, era nossa guia. Quando viramos uma rua, fomos cercados por traficantes armados. Afinal, éramos três homens num carro preto com vidro fumê. Explicamos: “Viemos de Ipanema para distribuir brinquedos.” Um deles disse: “Gostei de ver.” Eles organizaram uma fila e em menos de dez minutos os 200 brinquedos acabaram. Muitas crianças não receberam. E vieram também idosos perguntando por comida e roupa. Não tínhamos, mas prometi que voltaria sempre. Vários amigos dizem: “É o governo que tem que fazer.” Mas tem gente passando fome, vou esperar?

É difícil encontrar quem se disponha a ajudar?

Muita gente quer fazer o bem, mas não faz, seja por preguiça, por não saber como doar ou por desconfiança nas ONGs. Não gosto de nada parado. Se tem pessoa querendo doar e outra precisando receber eu me movimento ao máximo para fazer essa entrega, de forma transparente. Tudo que fazemos aparece na nossa página no Facebook (Corrente pelo Bem, não confundir com Corrente do Bem). Nosso xodó é o lixão, mas vamos a favelas como Alemão, Vidigal, Parque das Missões, Chapéu Mangueira, Babilônia. E sempre procuramos os pontos mais miseráveis desses lugares. Gosto de ir aonde não chega ninguém.


E como tem sido essa experiência?

Amigos ligam: “Tá na praia?” “Não, tô no lixão.” “O quê, tu é maluco, tá o maior sol.” Mas você volta outro. Fazer o bem vicia. Um menino do lixão me agarrou e disse: “Tio, nunca tinha ganhado um brinquedo na vida, obrigado.” E era um brinquedo de R$ 4, da Saara. É um lugar invisível para a sociedade. O próprio pessoal de lá chama de África do Brasil. O mais chocante até hoje foi ver numa casa uma senhora assando uma ratazana para dar de comer a quatro crianças. Fico arrepiado só de contar. Um amigo empresário, do Leblon, tinha uma filha mimada, que abria a geladeira cheia e reclamava: “Pai, não tem nada!” Ele levou-a lá e quando ela viu crianças disputando restos de comida com barata, rato, cachorro e porco voltou em silêncio e não reclamou mais.

O que mais faz a Corrente pelo Bem?

Ações sociais de emergência. Levamos uma tonelada de alimentos para um asilo em Saracuruna, que foi assaltado. Uma jovem com cinco filhos perdeu tudo após seu barraco no lixão pegar fogo. Arrumamos toda a mobília e o material de construção para refazer a casa. Teve uma enchente em Xerém e em dois dias conseguimos duas toneladas de alimentos e roupas. Meu sonho é ter uma sede, para fazer cursos e tirar as crianças da rua e do lixão. Minha mãe já doou um terreno em Vargem Grande. Não tenho patrocínio, então vendo rifas, faço parcerias, organizo almoços beneficentes, monto bazares, crio campanhas de arrecadação. E eu mesmo busco as doações em meu carro. Tenho que me desdobrar, mas a gente sempre arruma tempo para fazer o bem.


stest


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